Fragmentos #4

De repente me bateu uma ansiedade injusta. Aquele tipo de espera na qual não podemos mudar — não podemos fazer absolutamente nada. Ficamos sentados, ou deitados, como se esperando que algo mudasse. Ficamos exaustos, atônitos e ao mesmo tempo elétricos. Preocupados com o tic-tac constante do relógio, com a não-pressa do tempo-espaço, com a vaguidão das coisas.

De repente, é como se nada ali fizesse sentido algum — as coisas estão ali por motivo nenhum. E por não haver motivo, procuro justificativa nas coisas. Não acho. Cruzo as pernas e as mexo sem parar. Solto as pernas, fico balançando-as ininterruptamente, a cadeira fazendo um barulho de rame-rame insuportável. Eu não posso mudar nada. E por não poder mudar, eu não posso fazer absolutamente nada. Respiro fundo. O ar entra por inteiro, enche delicadamente os pulmões, sinto formigamento vindo de dentro para fora. Talvez seja a poeira cósmica.