Fragmentos #3

Voltando para casa hoje depois de almoçar, me deparei com um homem e uma mulher sentados numa calçada, próximo de onde eu estava. A mulher estava colocando cimento em algum buraco no chão e o homem sentado ao lado, observando, mão no queixo, olhando para o tempo, enquanto ela dizia algo inaudível para mim. A expressão dela não era das boas, então acredito que estavam discutindo. Eles pareciam ter mais de 40 cada um. Fortes sinais de velhice no rosto, o cabelo dela voava para o rosto e ela, com as mãos sujas de cimento, colocava-os para trás jeitosamente. Parecia estar cansada de tudo aquilo. O homem se levantou e foi em direção à porta. Ela pareceu ter terminado o serviço, também se levantou, pegou o balde e a pá com os quais estava mexendo o cimento e foi em direção a casa. Não sem antes fazer uma expressão de tristeza, de quase choro. Atravessou o portão e fechou-o com força.


Acredito que quando se está com a consciência limpa, você faz coisas para clarear e resolver a situação e não embaraçá-la ainda mais. A velha máxima do “quem não deve, não teme” se aplica em quase todas as instâncias da vida, embora seja bem clichê. Bem... alguns clichês dão lições perfeitas para a vida inteira.


Sim, me sinto sozinho, não tenho ninguém para compartilhar dirty secrets ou ninguém para azucrinar ou conversar quando precisar. E não, não falo de amizades — tenho bons e selecionados amigos. A gente vai envelhecendo a aprendendo a “peneirar” quem entra e sai da sua vida, claro que sim. Mas parece que falta alguém. Daí me pego pensando: será que não é o efeito mídias sociais querendo me pegar? A gente vê tanta gente feliz postando fotos felizes, fazendo coisas felizes. Aí você olha para a sua vida: por que não estou fazendo o mesmo também? Sou obrigado a tal coisa? Não somos. Mas as pessoas acham que somos. E o ciclo doentio começa.