Fragmentos #2

Antes de ir ao barbeiro, passei na livraria. Aquelas grandes, que tem no Brasil todo. Subi na escada rolante, entrei, fui direto para a sessão de literatura estrangeira, em especial à estante de livros da literatura russa. No meu mais remoto pensamento ingênuo, achei que algum box do Dostoievski ou Tosltói estariam mais baratos. Todos acima de R$150. Respirei fundo, ali mesmo em pé, com o box na mão. Devolvi-o à estante. Queria ler Crime e Castigo. Ou Ana Kariênina. Não queria recorrer aos livros do Kindle. Depois que se tem um tablet assim, você aprende a dividir as leituras: aquelas que você pode ler no digital e outras que você precisa ter a experiência do papel, do livro em si, do folhear constante. Mas cento e cinquenta reais em um país como o Brasil, em pleno 2019? Foda. Vai ficar para depois. Como qualquer objeto cultural hoje em dia.


Acredito que seja difícil até para os bolsominions engolir essa história de o filho do Inominável ser embaixador do Brasil na terra do Tio Sam. No fundo, eles devem achar toda essa história um grande absurdo e não tem como dizer não ou achar qualquer outra alternativa de protesto. Precisam apoiar. E apoiam. Vocês lembram na época de colégio quando toda sala de aula tinha aquele grupinho vagabundinho que nunca estudava e vivia tirando sarro da galera? Geralmente nesse grupo ficavam filhinhos de papai, aqueles 'estudantes' que nunca eram exemplo de nada, mas mostravam sua força através de atitudes estúpidas. E eram aplaudidos muitas as vezes. Agora imaginem uma eleição para 'líder de sala' e um desses menino vence. Pois é. O cara mais estúpido da sala agora é líder da turma e vai representar todo mundo colégio afora. E você fica se perguntando: mas como esse cara conseguiu se eleger? Tanta gente assim votou nele? E olhe que nem estou questionando o mérito da votação. Deve ter sido legítimo, sem fraude. Questiono a integridade moral das pessoas. Elas de fato votaram mesmo? E todo aquele papo de votar bem, mudar o mundo, acabar com a fome, a miséria, educação de qualidade e pública? Ah sim... encontraram um monstro debaixo da cama que se chama comunismo e precisam destruí-lo. Boa sorte com isso.


No ônibus, que não estava lotado, eu estava sentado na cadeira alta, ouvindo música, óculos escuros, estava voltando do barbeiro. Fones de ouvido novos, comprados em Portugal (uma relação quase afetiva com eles). Duas mulheres sentadas na minha frente quando uma delas menciona que quer descer e se prepara para sair da cadeira. A outra mulher olha para mim e diz alguma coisa que eu não entendo, pois a música estava alta. Eu tiro o óculos e peço para ela repetir. Eu ouvi e em seguida respondo. Bom, é isso. Ao invés de tirar os fones, eu tirei os óculos para ouvi-la melhor. Foda.